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Sobre um novo ano…

3 jan

No início do ano é comum recebermos textos reflexivos sobre o ano que passou e sobre o que virá. Esse ano em especial recebi de amigos e colegas textos muito bons que realmente me fizeram pensar e reavaliar questões em minha vida. Se tem algo que eu realmente gosto de fazer em época de férias, além do necessário descanso e da maior conexão comigo mesma, família e amigos, é ler. Aproveito a pausa na rotina atarefada para me debruçar em novas leituras e releituras.

Para o texto de início de ano deste Blog, escolhi refletir, inspirada pelas leituras que já fiz, e inspirada no texto que escrevi lá em 2017 e que acredito continuar sendo super atual, sobre a lógica binária do ganhar ou perder. Explico. Em nossa cultura existe algo muito forte e, não totalmente consciente, que quer fazer de nós vencedores ou perdedores, pessoas de sucesso ou de fracasso, como se essas fossem as duas únicas opções possíveis para o ser-humano.

Na realidade do consultório vejo o quanto isso pode ser devastador. É como se vivêssemos acreditando que para sermos vencedores na vida precisamos atingir um certo e estabelecido patamar social, cultural, relacional, intelectual, uma referência que não foi criada por nós, mas pela sociedade. Se não atingirmos esse referencial, ficamos tristes, frustrados, deprimidos, afinal, “o mundo pertence aos vencedores”.

Não existe, é claro, nada de errado em buscarmos crescer enquanto pessoa, adquirir bens, cultura, etc. A grande questão é quando isso se torna uma questão de “ganhar ou perder” muito mais do que uma questão de “ser” e quando somos movidos mais por uma referência externa (social), do que uma referência interna (aquilo que é o nosso próprio referencial de sucesso e que está alinhado com nossos valores e missão na vida).

Dentro dessa lógica binária do ganhar ou perder, a autora, PhD e pesquisadora Brené Brown observa, após 12 anos de pesquisa, o quanto está presente nas pessoas o escudo “Viking ou Vítima”. Ou se é uma vítima da vida, alguém que está sempre sendo passado pra trás, “perdendo” ou se é um viking, alguém que se mantém no controle, exerce poder sobre as coisas e nunca demonstra vulnerabilidade… e acredita que isso é ser “vencedor”. “Reduzir nossas opções de vida a papéis tão limitados e extremos deixa muito pouca esperança para transformação e mudança significativa”, ela diz.

Essa mentalidade binária pode funcionar como uma armadura que impede as pessoas de estabelecerem vínculos reais com os outros e consigo mesmas e ser causadora de muito estresse. Questionar essa visão de mundo de forma crítica é um primeiro passo na direção da mudança e da qualidade de vida emocional. Além disso, o conceito de sucesso é relativo. Reflita: o que é sucesso para VOCÊ? Para muitos, sucesso pode ser simplesmente sobreviver com dignidade em um mundo cada vez mais caótico. Para outros, pode representar realização profissional, bem estar da família, e para outros ainda pode envolver uma conquista maior de bens e status. Seja como for, ele não precisa se basear num conceito externo, mas sim naquilo que dá paz ao seu coração.

Acredito fortemente que o maior ganho que podemos ter é SER. O ganho de nos tornarmos pessoas mais humanas, mais sensíveis ao que realmente importa na vida e coerentes com nossos objetivos, valores e referenciais próprios.

Que em 2020 possamos nos conectar ainda mais com nossos valores e construir nossos próprios referenciais de sucesso e de vida.

Feliz novo ano.

Autocrítica: como calibra-la?

24 jul

Essa semana estou no Instagram (feed e Stories) compartilhando um pouquinho sobre o tema da autocrítica.

A autocrítica, quando elevada, produz efeitos muito negativos sobre nossa vida e nossa saúde emocional/mental. Ela pode nos levar a nos sabotar e sabotar nossos projetos, procrastinando-os. Isso porque criamos padrões muito elevados para nós mesmos.

Ganhar consciência sobre como esse processo opera em nós e atuarmos para calibrar nossa autocrítica é essencial para não desperdiçarmos energia emocional.

Deixar de sermos nossos piores carrascos passa pelo aprendizado da autocompaixão. Segundo a pesquisadora pós-doutora da Universidade do Texas, Kristin Neff:

“Autocompaixão envolve sermos gentis com nós mesmos, quando a vida dá errado ou notamos algo sobre nós que não gostamos, em vez de sermos frios ou severamente autocríticos.”

Os estudos de Kristin mostram que a autocompaixão é um exercício, um treino intencional consciente e possui 3 passos interligados:

  1. Autobondade: é a capacidade de nos acolhermos e nos consolarmos (quando erramos, fracassamos ou identificamos algo em nós que não gostamos) da mesma forma que faríamos a um grande amigo ou a um filho/a;
  2. Reconhecimento de nossa humanidade comum: é quando reconhecemos que nossa condição humana é limitada e imperfeita e que todos os seres-humanos, por mais fortes e bem sucedidos que possam se mostrar, são assim. Isso pode gerar uma sensação positiva e saudável de suficiência;
  3. Mindfulness: é o quanto possuímos uma visão clara e sem julgamentos de nós mesmos no momento presente.

Exercitar esses passos é a forma de calibrar nossa autocrítica quando elevada. Calibrar nossa autocrítica é um ato de amor-próprio e, também, de amor ao próximo. Isso porque, geralmente, tendemos a ser mais críticos com os outros (sob o risco de feri-los e distancia-los de nós), quanto mais formos com a gente mesmo!

Exercite sua autocompaixão!

 

O passarinho engaiolado

11 out

O texto deste mês é de Rubem Alves. Há anos utilizo esta história na prática clínica e ainda me surpreendo com a forma como toca a vida dos pacientes. Apesar de ser contada em um formato infantil, é excelente para a reflexão (e ação!) de adultos que querem mudar mas têm medo de arriscar.

O passarinho engaiolado

Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranqüila, como seguras e tranqüilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.

Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.

(…)

Do seu pequeno espaço ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; os urubus, nos seus vôos tranqüilos da fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranqüilizavam. Ele queria ser como os outros pássaros, livres… Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.

Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!

Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas aguentariam. Elas não estavam acostumadas.

O melhor seria não abusar logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.

— Ei, você! – era uma passarinha. – Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá… Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.

Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.

Neste momento chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:

— Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar…

Terapia de Casal funciona?

16 mar

Durante muito tempo, por influência das escolas originais da psicologia, como por exemplo a psicanálise, o casal era visto exclusivamente de uma perspectiva individual. Ainda que os psicólogos pudessem atender os cônjuges juntos na sessão, eram as vivências, crenças, histórias, formas de comunicar e relacionar de cada um, individualmente, que eram trabalhadas.

Foi a abordagem sistêmica familiar, dentro das psicoterapias mais modernas, que introduziu e consolidou o foco do trabalho terapêutico nas dinâmicas da conjugalidade. A forma de funcionamento do casal, seus padrões cristalizados (e não conscientes) de operar, entraram em cena. O trabalho dos terapeutas de casal ampliou-se e tornou-se ainda mais eficaz.

Já respondendo à pergunta do título, apesar de eu ser “injustamente” suspeita: SIM, A TERAPIA DE CASAL FUNCIONA. E não apenas funciona como, grande parte das vezes, resolve por completo os conflitos da relação.

Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema é da Universidade da Califórnia e data de 2010. Durante um ano inteiro os pesquisadores acompanharam quase 150 casais em terapia. No fim do experimento, 50% deles disseram que, após iniciarem a psicoterapia de casal, a relação melhorou significativamente. Cinco anos depois a pesquisa foi refeita com os mesmos participantes e mais da metade afirmou ter superado os conflitos e viver em harmonia no casamento. Somente um quarto do total havia se separado.

No entanto, ainda hoje, a maior parte dos casais que procuram terapia conjugal o fazem como um último recurso para o casamento, depois de já terem tentado de tudo (essa é inclusive a fala de muitos que chegam no consultório). Buscam pela terapia quando a relação já está num ponto tão grande de desgaste que a própria sessão conjugal é sofrida.

Porém, aos poucos, isso vem mudando. A busca pela terapia individual, por exemplo, também sofreu vários tipos de preconceitos e resistências por parte das pessoas. Houve um tempo em que fazer terapia era quase que o mesmo que dizer a si e aos outros que se estava louco (“terapia é coisa de louco” — você já deve ter ouvido isso antes). Hoje em dia, vejo as pessoas buscando terapia “somente” para autoconhecimento, para fortalecimento emocional, autocuidado (“quero ter um tempo pra olhar pra mim”) e para prevenção de estresse. Hoje, fazer terapia, parece envolver até uma questão de status. Afinal, os artistas, celebridades, vivem fazendo propaganda gratuita da importância da terapia na vida deles. Isso, de fato, ajudou muito.

Acredito que o mesmo acontecerá com a terapia de casal. Aos poucos, os estigmas, preconceitos e as resistências vão cair. Até porque, o número de divórcios, ano a ano, não pára de subir. Hoje, aqui em Brasília, a quantidade de casais que atendo supera a terapia individual. E o mais legal é que alguns deles vieram através da procura do homem, revelando o quanto eles também já estão com um olhar mais voltado para o cuidado da relação a dois.

Em um próximo post vou falar um pouquinho mais sobre como a terapia de casal funciona e como ela pode ajudar. Além da minha experiência clínica atendendo casais há 15 anos, tenho pesquisado demais este tema, uma vez que ele é um dos focos do meu doutorado.

Até lá.

Escutatória

6 mar

No post de hoje compartilho um de meus textos preferidos do Rubem Alves: ESCUTATÓRIA. Costumo utilizá-lo em aulas, treinamentos, workshops e tê-lo aqui em meu blog é uma forma de fornecer também aos participantes material de leitura.

“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:
“Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”.

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.
(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, […]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.).

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”.

Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto”.

Sobre o ouvir…

13 fev

Você já conversou com alguém que não deixa você terminar de falar? Que te interrompe a cada instante? E que quando você, enfim, consegue falar, ela sempre devolve com alguma consideração sobre ela mesma, sobre aquilo que ela fez, viveu, pensou, etc, etc: “ah, mas eu…”; “e eu…”; “eu também…”; “eu não”… sem ao menos fazer qualquer comentário sobre aquilo que vc tão genuinamente quis compartilhar.

E quando essa pessoa é você? 🙈🙉🙊

Tenho ouvido nos últimos anos, e cada vez mais, essas reclamações dos clientes. Pessoas ressentidas com a baixa qualidade do “ouvir” de seus amigos, dos cônjuges, de seus gestores, de seus pais e até de seus filhos.

O mundo corporativo hoje demanda a escuta ativa e empática como competências a serem desenvolvidas pelos colaboradores, principalmente aqueles que almejam ser líderes (não de cargo, mas de fato). É, inclusive, um diferencial competitivo e são várias as ferramentas que utilizam o poder da escuta como base para os programas de treinamento e desenvolvimento nas empresas.

Saber ouvir é uma arte… e, na minha opinião, das mais belas. Ouvir o que está sendo dito e o que não está. Ouvir as entrelinhas, as emoções ocultas por trás das palavras. Ouvir sem julgamentos, estando o máximo presente, simplesmente atento ao outro, conectado com aquilo que ele traz.

Acredito que ouvir é um ato de acolhimento, capaz de potencializar, inclusive, a autoestima daquele que fala. Não foram poucas as vezes que ouvi de um cliente que o simples fato de se sentirem ouvidos já era suficientemente reconfortante. Por tudo isso acredito que ouvir, mas ouvir de verdade, colocando sua energia nisso, é um ato de amor.

Sou apaixonada pela arte do ouvir. Não foi à toa que escolhi essa profissão. Mas sei que não é fácil.

Para aqueles que querem (porque só funciona se querer) melhorar essa competência, o feedback e o autoconhecimento podem ajudar. Dar, receber e pedir feedback sincero sobre esse ponto específico ajuda a se conhecer e a entender o impacto do seu ouvir, e da falta dele, sobre as pessoas.

Além disso, buscar conhecimentos sobre técnicas e formas de ouvir, como, por exemplo, a escuta empática e a escuta ativa, para então treiná-las na prática, pode ajudar.

A escuta empática ouve o outro sob a perspectiva do outro e não da sua. É como se você fizesse um esforço para, a partir da visão de mundo da pessoa que fala, do contexto dela, da história dela, dos seus valores, compreendê-la.

A escuta ativa é a escuta interessada. Você demonstra interesse pelo o que a pessoa fala através de um não-verbal expressivo. Você concorda com a cabeça, com os olhos, com sons de afirmação. Você desconecta-se de tudo que pode roubar a sua atenção durante a conversa e se conecta na pessoa. Faz perguntas que demonstram curiosidade, recaptula o que a pessoa fala, de forma natural, porque realmente se importa e se interessa pelo conteúdo.

Potencializar esse pequeno (grande) aspecto da sua comunicação pode trazer uma maior satisfação para suas relações, assim como para você próprio. Mas é a disposição interna em querer aperfeiçoar essa habilidade e o interesse genuíno pelas pessoas que legitimará esse processo.

2017: É ganhar ou perder?

22 jan

No início do ano é comum recebermos textos reflexivos sobre o ano que passou e sobre o que virá. Esse ano em especial recebi de amigos e colegas textos muito bons que realmente me fizeram pensar e reavaliar questões em minha vida. Se tem algo que eu realmente gosto de fazer em época de férias, além do necessário descanso e da maior conexão comigo mesma, família e amigos, é ler. Aproveito a pausa na rotina atarefada para me debruçar em novas leituras e releituras. É claro que minhas leituras sempre envolvem temas relacionados à minha área de atuação e nem consigo fugir disso, já que é o que me atrai.

Para o texto de início de ano do Blog, escolhi refletir, inspirada pelas leituras que fiz, sobre a lógica binária do ganhar ou perder. Explico. Em nossa cultura existe algo muito forte e, não totalmente consciente, que quer fazer de nós vencedores ou perdedores, pessoas de sucesso ou de fracasso, como se essas fossem as duas únicas opções possíveis para o ser-humano. Na realidade do consultório vejo o quanto isso pode ser devastador. É como se vivêssemos acreditando que para sermos vencedores na vida precisamos atingir um certo e estabelecido patamar social, cultural, relacional, intelectual, uma referência que não foi criada por nós, mas pela sociedade. Se não atingirmos esse referencial, ficamos tristes, frustrados, deprimidos, afinal, “o mundo pertence aos vencedores”.

Não existe, é claro, nada de errado em buscarmos crescer enquanto pessoa, adquirir bens, cultura, etc. A grande questão é quando isso se torna uma questão de “ganhar ou perder” muito mais do que uma questão de “ser” e quando somos movidos mais por uma referência externa (social), do que uma referência interna (aquilo que é o nosso próprio referencial de sucesso e que está alinhado com nossos valores e missão na vida).

Dentro dessa lógica binária do ganhar ou perder, a autora, PhD e pesquisadora Brené Brown observa, após 12 anos de pesquisa, o quanto está presente nas pessoas o escudo “Viking ou Vítima”. Ou se é uma vítima da vida, alguém que está sempre sendo passado pra trás, “perdendo” ou se é um viking, alguém que se mantém no controle, exerce poder sobre as coisas e nunca demonstra vulnerabilidade… e acredita que isso é ser “vencedor”. “Reduzir nossas opções de vida a papéis tão limitados e extremos deixa muito pouca esperança para transformação e mudança significativa”, ela diz.

Essa mentalidade binária pode funcionar como uma armadura que impede as pessoas de estabelecerem vínculos reais com os outros e consigo mesmas e ser causadora de muito estresse. Questionar essa visão de mundo de forma crítica é um primeiro passo na direção da mudança e da qualidade de vida emocional. Além disso, o conceito de sucesso é relativo. Reflita: o que é sucesso para VOCÊ? Para muitos, sucesso pode ser simplesmente sobreviver com dignidade em um mundo cada vez mais caótico. Para outros, pode representar realização profissional, bem estar da família, e para outros ainda pode envolver uma conquista maior de bens e status. Seja como for, ele não precisa se basear num conceito externo, mas sim naquilo que dá paz ao seu coração.

Acredito fortemente que o maior ganho que podemos ter é SER. O ganho de nos tornarmos pessoas mais humanas, mais sensíveis ao que realmente importa na vida e coerentes com nossos valores e referenciais.

Que em 2017 possamos nos conectar ainda mais com nossos valores e construir nossos próprios referenciais de sucesso e de vida.

Feliz ano novo.

Saindo da casa dos pais

12 fev
O post de hoje é motivado por sessões recentes que vivenciei no consultório. Alguns pacientes/clientes adultos estão justamente nesse momento de sair da casa dos pais para morar sozinhos. Esse é um momento que, se experimentado de forma consciente e reflexiva, pode trazer aprendizados significativos para a vida. Aprender a administrar uma casa e todo pacote que vem junto, emoções inclusive, aprender a administrar a própria solidão, transformando-a em solitude, pode ser mais gratificante do que a própria ansiedade gerada no processo.

Compartilho um trecho do meu livro*, publicado em 2013 pela editora NVersus, que fala um pouco desse momento….

“Podemos pensar que uma forma adequada de vivenciar o desligamento da família de origem não é afastando-se emocionalmente, mas sim renegociando as relações familiares originais. Isso significa que tanto os pais quanto os filhos precisam aprender a colocar limites nas interferências do outro, sem ficar à mercê de sentimentos de culpa. É cortar o “cordão umbilical emocional” mantendo a liberdade de ir e vir. Para Carter e McGoldrick (2001), os filhos devem ser capazes de escolher emocionalmente o que levarão da família de origem, o que deixarão para trás e o que irão construir sozinhos.

Muitos filhos saem da casa dos pais, mas a casa dos pais não sai deles. Continuam de alguma forma vinculados ao lar parental. Em relação às tarefas domésticas, por exemplo, lavam a roupa na casa dos pais, almoçam, utilizam a mesma diarista, trazem comida congelada da mãe. Acabam dessa forma diminuindo as responsabilidades sobre o novo lar e sobre si mesmos, além de possibilitarem aos pais a manutenção de um monitoramento sobre eles. Estas situações podem dificultar o estabelecimento de limites saudáveis nas relações e as necessárias ressignificações do papel da parentalidade, ou seja, do que significa ser pai e mãe de um filho adulto. Aprender a equilibrar todas essas demandas faz parte de uma vida adulta saudável.

Administrar sua própria casa depois que saiu do ninho (casa dos pais) é um treino para delimitar melhor aquilo que é seu e que é diferente do outro. É uma ótima oportunidade para conhecer mais sobre si mesmo, sobre seu jeito, seus gostos, seus desejos, sua organização, seus horários, seus relacionamentos, e lidar com as devidas consequências. Aprender a gerir a casa externa pode ser também uma forma de influenciar uma maior organização na casa interna, a emocional.

Ser adulto é desenvolver uma capacidade reflexiva independente, com opiniões próprias e embasadas. É poder definir seu planejamento de vida, suas metas, sabendo identificar o que é desejo seu e o que é dos outros; sejam estes outros os pais ou os pares. É administrar diretamente todas as áreas que envolvem sua vida.

(…)

Ser adulto é ser livre para ser quem se é e saber o que se quer ser, sem depender tanto da aprovação externa. É ter o eu preservado para poder compartilhá-lo numa relação íntima com alguém.

É ser flexível para lidar com os imprevistos e percalços da vida sabendo que no meio do caminho existem pedras (Carlos Drummond de Andrade).

É identificar as possíveis zonas de conforto pessoais e correr os riscos que existem fora delas.

É respeitar limites, de si mesmo e do próximo.

É aprender a ser autor e protagonista da própria vida.

Mas ser adulto é também saber que não se é perfeito. Que sempre existe mais um pouco a percorrer na trilha do autoconhecimento e do autodesenvolvimento. Que aprender e crescer são para sempre, enquanto viver, e que nunca se está pronto, mas em constante construção.

É ter em mente que o processo de amadurecimento não acontece de forma linear-ascendente, mas sim de forma espiral-ascendente, onde altos e baixos, avanços e recuos, são previstos, mas onde também cada baixo subsequente torna-se mais alto que o anterior, e o amadurecimento, principalmente quando existe um esforço consciente envolvido nessa direção, se torna uma realidade cada vez mais concreta.

Ser adulto é, em última instância, aprender a fazer por si o que os pais fizeram por ele, ou seja, aprender a se cuidar de forma integral e responsável enquanto viver.

O canguru é conhecido por seus grandes pulos. Sair da casa dos pais pode ser um deles, pensando na Geração Canguru. Continuar saltando rumo ao crescimento em cada área da vida é o grande desafio e ao mesmo tempo pode se tornar um grande prazer.

Após concluir o seu desenvolvimento o canguru precisa sair da bolsa da mãe. Da mesma forma, o passarinho precisa sair do ninho cheio, alçando seus próprios voos. Assim é a natureza. Para os pais, é o momento de acreditar que a tarefa da educação e cuidado já foi internalizada e os filhos são agora capazes de saltar ou, quem sabe, voar… sozinhos.”

*trecho extraído do livro “Geração Canguru – Ninho Cheio: o filho adulto morando na casa dos pais” (Mariana G Figueiredo, 2013).

Empatia – Uma competência (não tão) básica para as relações

19 jan

No ano passado, quando ministrava um curso em um órgão aqui em Brasília, um questionamento feito por um dos participantes me surpreendeu. Era o momento em que eu explicava o conceito de empatia, linkando-o com o tema do curso, que envolvia falarmos de relacionamento interpessoal e conflitos.

O participante expressou-se de forma enfática, afirmando que nunca tinha ouvido aquele conceito antes. Ele defendia que empatia era sinônimo de simpatia e que, para ele, seria empática aquela pessoa que fosse simpática, atenciosa, alegre e positiva com o outro. Voltei o questionamento para o restante da turma a fim de checar o que eles sabiam sobre o conceito… e qual não foi a minha surpresa quando os poucos que manifestaram saber definiram-na do mesmo modo que o primeiro participante. Naquele momento paramos um instante o seguimento do curso para atender a demanda que surgia, refletindo sobre o real conceito de empatia e a sua importância nas relações.

Empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar de um outro e compreendermos seus sentimentos, suas motivações, suas ações, seus pontos de vista. Theresa Wiseman, pesquisadora na área da enfermagem, descreve 4 características de uma pessoa empática: ela é hábil em entender a perspectiva dos outros, ela reconhece a perspectiva deles como verdade (não A Verdade), ela não julga e ela reconhece emoção em outras pessoas e comunica isso. Não é fácil. Exige estar consciente na relação e disponível emocionalmente para ela.

Empatia é sentir com as pessoas. Porém, para eu conseguir sentir com o outro o sentimento dele, preciso acessar e reconhecer esse mesmo sentimento dentro de mim. E as vezes não queremos isso, pode ser incômodo… e até doer. Outras vezes, nos colocarmos no lugar do outro e compreendê-lo pode nos levar a abrir mão das nossas verdades sobre aquela situação discutida. O orgulho pode não deixar a empatia fluir.

Atendendo casais em consultório posso perceber o quanto esta competência está em falta e o quanto a sua construção está diretamente relacionada com uma melhora na qualidade das relações conjugais.

Acredito fortemente que as relações ruins podem ser ressignificadas quando a empatia entra. Ela é capaz de gerar conexão real entre as pessoas. É um processo que começa no reconhecer e no querer.

A verdade é que a empatia gera compreensão. Compreensão gera compaixão e enxergarmos o outro como ele verdadeiramente é, além de suas defesas e barreiras. E isto, por sua vez, gera amor.

 

O que você faria se não tivesse medo?

15 jul

Essa foi uma das perguntas que me deparei quando alguns anos atrás comecei a estudar sobre o processo de coaching. Dentro das ferramentas utilizadas pelo coaching existem as “perguntas poderosas” e o título deste post é considerado uma delas. “O que você faria se não tivesse medo?” Você já pensou sobre isso? Se em uma situação específica de sua vida, seja na área que for, onde você precisasse tomar uma decisão ou sair da sua zona de conforto, arriscar, dar um passo rumo ao desconhecido, o que você faria se o medo não fosse um dos componentes da química do momento? Interessante perceber o quanto o medo pode ser uma barreira na subida dos degraus da vida e da carreira, podendo até paralisar nosso potencial.

Um exemplo vivenciado por um dos meus clientes corporativos foi a decisão que ele precisava tomar em sua carreira que envolvia uma mudança de cidade com um deslocamento lateral na sua posição/cargo na empresa para só depois receber a promoção desejada. Quando lhe perguntei o que ele decidiria se não tivesse medo, a resposta de bate pronto foi: “eu iria”. Pudemos também pontuar no papel todos os medos relacionados ao fato de ele não conseguir decidir se iria ou não. E eu pude constatar na prática o quanto esta é de fato uma perguntinha poderosa.

Dizem que o maior medo do ser-humano é o medo da morte. Entre os dez maiores também estão o medo de falar em público, o medo de ficar sozinho, o medo de perder pessoas importantes. Você tem consciência sobre os seus medos e o quanto eles te paralisam ou impulsionam? Eu por exemplo morro de medo de avião. Mesmo meu marido trabalhando na aviação e usando todo o discurso e estatísticas para me mostrar o quanto é seguro, não diminui meu medo, apenas ajuda-me a enfrentá-lo. O fato de eu ter família em diferentes cidades e trabalhar como consultora organizacional onde a maior parte dos projetos envolvem treinamentos nas diversas sedes das empresas, fazem com que eu precise viajar muito. E eu tenho para mim que jamais me privarei de um trabalho ou passeio por não querer enfrentar o medo de voar. Então me preparo, encaro e vou. Não deixando o medo me dominar nem ficando à mercê dele, mas coloco-me no controle exercitando o domínio próprio.

Sem dúvida os medos são também uma reação protetora e saudável do ser-humano, necessários para não nos expôrmos a situações de risco real, no entanto, vale o ganho de auto-consciência para identificarmos tudo aquilo que não tem nos ajudado a chegar onde queremos e os medos muitas vezes ocupam, neste âmbito, infelizmente, o papel principal.